Não precisa da flor com bilhetinho
Então tá. Hoje é dia da mulher. Dia internacional da mulher. E aí, esse dia acaba ficando meio diferente dos outros dias do ano. Tipo acontece no dia das mães e dos pais quando todos os holofotes estão neles.
Desde sempre, no 8 de março, os homens fazem suas homenagens a nós mulheres, enaltecendo nossa força e coragem e nossas histórias incríveis de luta, e nos agradecendo ou parabenizando por isso. E muitas de nós, por outro lado, insistem que, na verdade não acham assim muito justo que tenhamos um único “diazinho” nessa coisa chamada ano, que possui outros 364 dias em que continuamos sendo as mesmas, com toda a nossa força e nossa luta, e que, por isso, nosso dia deveria ser todo dia.
Mas eu tô aqui hoje, meio que aproveitando a data pra dizer uma coisa que aconteceu comigo há pouco tempo e que tem a ver com esse assunto.
É que agora tá na moda essa coisa de feminismo. E todo mundo tá falando muito disso. E eu ainda não tinha falado nada, porque, na real, tava meio perdida no assunto.
Pouco tempo atrás eu achava que feminismo era um grupo de mulheres revolucionárias - de um jeito chato - que protestavam contra tudo e lutavam para impor suas regras, e que, essas regras favoreceriam as mulheres e prejudicariam os homens. Mais ou menos aquela coisa de que "mulheres são seres superiores e os homens inferiores", ou "as mulheres são incríveis e os homens não valem nada". E, obviamente, para ilustrar esse discurso, vinha à minha cabeça a clássica cena - que eu de fato nunca vi, mas sempre ouvi falar - de mulheres nuas, queimando seus sutiãs.
Pois bem. Que coisa chata o feminismo, não é mesmo?!
Mas então eu descobri uma coisa. E essa coisa meio que mudou tudo. E na verdade mudou tanto, que hoje encho a boca pra falar que sim, sou feminista. Olha aí as ironias da vida...
Eu descobri que, na real, feminismo não tem a ver com eles. Tem a ver comigo. Comigo e com todas nós, mulheres. Tem a ver com a gente e com a nossa liberdade de escolha. A nossa liberdade de decidir ser o que quiser e fazer o que quiser e estar onde quiser vestindo o que quiser. Tem a ver com poder querer qualquer coisa e não ter alguém te falando que "você não pode querer isso" ou "não pode vestir isso" ou "não pode fazer isso".
Tem a ver com não existir brinquedo de menina e brinquedo de menino, mas, simplesmente, brinquedos. Quem foi mesmo que disse que rosa é pra menina e azul é pra menino? Acontece que super curto o azul e se eu quiser posso ter tudo azul. E por falar em rosa, me lembrei da flor que a gente ganha hoje, o 8 de março de todos os anos. Aquela que vem acompanhada de um bilhetinho fofo nos dizendo como somos seres incríveis. Desculpa. Eu não quero. Posso trocar a rosa com o bilhetinho de parabéns, pelo seu respeito o ano inteiro? Ou por eu poder andar na rua com aquele meu shortinho curto, porque tá calor pra caramba, e você não me olhar de um jeito ruim, nem me chamar de gostosa?
Também queria dizer que descobri outra coisa e que queria compartilhar, porque acho importante a gente dividir com as pessoas, as coisas legais que a gente descobre.
Descobri que feminismo também tem a ver com uma outra palavrinha meio nova no meu vocabulário: "sororidade" que é a empatia que eu sinto pelas outras mulheres. É quando eu paro pra ouvir o que elas tem a dizer, e ofereço meu colo ou meu abraço ou minha força pra gente lutar juntas por alguma coisa.
Então mulheres, eu queria que vocês soubessem que eu tô aqui pra dar a mão ou um abraço e dizer que seria legal se a gente se unisse um pouco e se ajudasse e se cuidasse. Seria legal se a gente parasse de julgar tudo por um instante, e de estabelecer pré conceitos das coisas e simplesmente vivesse exercendo a nossa liberdade de escolha, sem nos achar melhores nem piores que ninguém. E que se hoje, ou em qualquer um dos outros 364 dias do ano, eu ver alguém desrespeitando qualquer uma de vocês, do jeito que for, só porque você é mulher, estarei lá. A postos. Tipo "tamo junta!"
Ah! E só pra fechar, vou dizer que sim, nosso dia é todo dia. E todo dia também é dia dos homens e das crianças e das mães e dos pais. Todo dia é dia de todo mundo. Mas não é legal ter um dia em que a gente possa aproveitar que o foco tá na gente e fazer o mundo enxergar como ainda tá ruim pro nosso lado? Homens - e governo e todo mundo - não precisa da flor com bilhetinho. Sério. Nem precisa se sentir ameaçado pela palavrinha "feminismo". Ela é do bem e a gente ainda precisa dela por um tempo. Até que não tenha mais lado e que os gêneros não sejam mais usados pra diferenciar - de um jeito ruim - as pessoas, que no fundo, são todas pessoas.