Desculpa aê, mas tô meio orgulhosa de mim agora
Sempre tive uma autoestima meio baixa. Nunca me achei a mais bonita ou a mais esperta, muito menos a mais inteligente.
Na escola era boa nos esportes. Adorava as aulas de educação física e era da equipe de handebol, mas, em compensação, sempre tomei recuperação em matemática.
Também sou indecisa. Muito. Culpa do signo. Certeza!
Com isso, fui decidir tarde o que queria fazer da vida.
Quando era mais nova queria arquitetura, mas pensava que eu nunca conseguiria por conta do histórico ruim com a matemática.
Daí percebi que gostava da área de biológicas. Então tá. Medicina. Mas eu meio que desmaio pra tirar sangue... Melhor não.
Vou de biologia. É isso. Mas dar aula? Será? Não sei...
E nessa brincadeira passei por educação física, publicidade e propaganda, jornalismo, até cair na engenharia ambiental.
Tinha engenharia no nome e isso me preocupava. Mas aí eu me auto enganava dizendo que a parte de engenharia era bem básica e que o principal ali era mesmo a área ambiental. Ótimo! Problema resolvido.
Então fui. Comecei e fui indo... Até que, quatro anos depois, estava chegando a hora de formar e as coisas estavam difíceis. Mercado ruim, a profissão desvalorizada. Fui conversar com algumas pessoas, professores, engenheiros.
E mudando de ideia mais uma vez, caí com tudo na engenharia civil. Sim. Eu. A menina que passava com 100 em educação física e tomava recuperação em matemática. Tava ali. Fazendo engenharia. Civil.
E aí uns dias atrás comecei num estágio novo. Empresa de projetos. Estruturais. Só engenheiro calculista. E eu, apavorada!
Tinha muita coisa ali que eu não entendia. E foi aí que me falaram uma coisa. E essa coisa me fez pensar sobre mim e sobre a vida e sobre tudo o que eu fiz até hoje e também sobre tudo o que ainda quero fazer. Me disseram lá no estágio, só porque eu não entendia um daqueles desenhos - na verdade um corte de um bloco de fundação que eu nunca tinha visto na vida - que é provável que eu não tenha vocação pra engenharia.
E dizendo assim, de repente, de uma vez, pode até parecer uma coisa meio cruel de se dizer pra alguém. Mas na verdade foi muito bom ouvir isso.
Voltei pra casa pensando em como tinha chegado até ali. Todos os medos e as dúvidas. Fiquei pensando porquê eu tava ali e o que eu quero no futuro.
E então cheguei a uma conclusão tão linda e incrível e importante, que achei que merecia ser compartilhada.
Talvez – e talvez aí, é só pra não dizer com certeza - eu realmente não tenha vocação pra engenharia. E é aí que vem a parte incrível. É que mesmo sem nenhuma vocação pra engenharia ou pra matemática ou pra exatas, eu tô aqui. Estudando e conseguindo. Estudando e quase me formando. Me formando e virando uma engenheira. Civil.
E quero ser boa. Fazer a diferença de alguma forma. Ser competente e sentir orgulho de mim mesma.
E pra falar a verdade tô um pouco orgulhosa agora. Tô orgulhosa por ter descoberto - sozinha - que a gente pode fazer o que quiser. E ser o que quiser. E que ninguém pode te falar se você é ou não capaz de fazer o que quer que seja. Porque se você quiser, você faz.
E isso pode até ser muito óbvio pra muita gente, mas eu e minha autoestima meio pequena, sempre tivemos certeza de que as possibilidades eram limitadas. Que determinadas coisas não eram pra nós e que não daria. Nunca.
Mas agora adivinha?! Entendi tudo! Entendi que eu posso! O que eu quiser! Qualquer coisa!
A diferença é o tamanho do esforço que precisa ser feito. Algumas pessoas tem a sorte de nascer com algum talento - ou vocação, que seja - pra alguma coisa. Então o caminho pode ser mais curto ou menos sofrido.
Mas quer saber? Melhor assim, com um longo e emocionante caminho até a conquista.